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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

FILHO DE CACIQUE MORTO VÊ "PRECIPITAÇÃO" DA FUNAI



Hipótese de assassinato de líder indígena que alimentou conflito étnico na região foi levantada por servidores locais da Funai e endossada pela direção do órgão (veja aqui) e pelo Cimi. Família de tenharim morto diz, contudo, que não acredita em homicídio porque viu que 'ele caiu da moto'.

Texto de Fabiano Maisonnave publicado hoje na Folha de São Paulo reforça o papel de funcionários da Funai nos episódios de violência no sul do Amazonas.

"Só queríamos viver o luto familiar em paz", disse Gilvan, 24, filho do cacique Ivan Tnharim, 55, encontrado desacordado ao lado da sua moto no dia 2 de junho, na rodovia Transamazônica, a 20 km de sua aldeia.

A região, a 130 km de Humaitá (AM), está no centro das buscas da Polícia Federal por três homens desaparecidos desde 16 de dezembro. A PF anunciou ontem ter encontrado peças queimadas de um veículo Volkswagen. O material será avaliado por peritos para verificar se pertence ao Gol no qual viajavam os três homens desaparecidos.

Levado a Porto Velho (RO), distante cerca de 330 km, o cacique não resistiu e morreu no dia seguinte. No atestado de óbito, consta que a causa foi traumatismo craniano provocado por acidente.

"Em nenhum momento a gente falou que o meu pai foi assassinado. A gente não protestou nem chegou a acusar ninguém", disse Gilvan. Ele explicou que, por questões culturais, a família não autorizou a autópsia completa.

Mas a reação do coordenador regional da Funai, Ivã Bocchini, foi diferente. Conforme mostramos aqui no QI, em texto publicado no blog oficial do órgão dias após a morte, ele levantou a hipótese de assassinato.

O texto foi retirado do ar, mas as ilações de Bocchini foram endossadas por Carlos Travassos, Coordenador-geral de índios isolados e de recente contato da Funai em Brasília. A própria Funai e o Cimi divulgaram Notas Oficiais afirmando que trabalhavam com a hipótese de assassinato para a morte de Ivan Tenharim. Embora o texto da Funai de Humaitá tenha sido retirado do ar ele ainda pode ser encontrado no cache do google. Veja aqui: Morre Ivan Tenharim

Mas para o filho do cacique, houve uma "precipitação" da Funai. "A gente viu que ele caiu da moto."

Contatado pelo jornalista da Folha, Bocchini desligou o telefone após o repórter se identificar. Fabiano Maisonnave tem sido acusado por indigenistas e fazer uma cobertura anti-indígena no problema em Humaitá.

O sumiço de três homens da região que viajavam juntos nesse trecho da Transamazônica, no último dia 16, fez os moradores de Humaitá relacionarem as ilações da Funai e desaparecimento.

Surgiu a versão de que o funcionário da Eletrobras Aldeney Salvador, o representante comercial Luciano Ferreira e o professor Stef de Souza foram mortos pelos índios por retaliação.



Um jornal local, "A Crítica de Humaitá", afirmou que os três morreram porque um pajé tenharim teria sonhado que um carro preto - a mesma cor do veículo no qual viajavam os três homens também desaparecidos - atropelou o cacique, provocando sua morte.

Os cerca de 900 tenharim, no entanto, não têm pajés. A maioria é evangélica - e torcedora do Corinthians e do Flamengo. Moram em casas de madeira com eletricidade. Quase todas as famílias são bilíngues, têm TV e moto, e duas aldeias estão conectadas à internet.

Na véspera do Natal, a falta de notícias sobre os desaparecidos e a completa inação da Funai e da Polícia Federal levou parentes e amigos a bloquearem a balsa sobre o rio Madeira que liga Humaitá à Transamazônica, impedindo o regresso de indígenas que estudam na cidade ou que vão até lá para fazer compras. Orientados pela Funai, 115 se refugiaram no quartel do Exército.

No dia seguinte, em pleno Natal, centenas de moradores atacaram as instalações da Funai e da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena). A fúria continuou no dia seguinte. Acompanhada pela PM, uma caravana de moradores do vilarejo Santo Antônio do Matupi, a 180 km de Humaitá, saiu pela Transamazônica destruindo cerca de 10 pedágios que os índios mantém ilegalmente na rodovia.

A cobrança, que varia de R$ 15 a R$ 120, gera atrito com os moradores desde a sua implantação, em 2006. Nos tribunais, as decisões têm sido favoráveis aos índios mesmo a revelia da lei.

Na aldeia Vilanova, o cacique Domingo Tenharim, 54, disse que os PMs roubaram R$ 540 arrecadados no pedágio e levaram duas espingardas de caça calibre 28. A PM diz que agiu apenas para evitar confrontos.

Na quinta-feira, quando a Folha esteve na aldeia, os caciques se reuniram com um advogado pago não se sabe por quem. Decidiram não colaborar com as investigações do paradeiros dos três homens sem etnia e retomar a cobrança ilegal do pedágio apenas a partir de fevereiro. Eles negam participação no sumiço de Aldeney Salvador, Luciano Ferreira e Stef de Souza.

Nas cinco aldeias visitadas pela Folha, as lideranças afirmam que comida e medicamentos estão acabando porque não podem ir à cidade, por falta de segurança. A Funai, que teve todos os 11 veículos de Humaitá incendiados por manifestantes, não vem dando nenhum tipo de assistência.

Anteontem, o Ministério Público Federal recomendou o envio de mantimentos aos índios da região, onde vivem outras três etnias, não envolvidas diretamente no conflito, mas igualmente afetadas.

"Estamos sendo tratados como bandidos, mas somos seres humanos, temos raciocínio", afirma o cacique Domiceno Tenharim, da aldeia Taboca, principal foco da investigação da polícia.

Fonte: http://www.questaoindigena.org/2014/01/filho-de-cacique-morto-ve-precipitacao.html#more

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