Apuí corre o risco de sofrer com
abastecimento de alimentos e energia. Outros municípios também estão sofrendo
com a cheia
ELAÍZE FARIAS
As aulas das escolas da rede pública do município
de Apuí (a 453 quilômetros de Manaus) estão suspensas a partir desta
segunda-feira por tempo indeterminado devido à cheia da bacia do rio Aripuanã.
A determinação foi confirmada neste final de semana pelo presidente da Câmara
Municipal de Apuí, Vagner da Silva, que não soube estimar a quantidade de
alunos que ficarão sem aula.
O rio Roosevelt, afluente do Aripuanã, transbordou
e impediu o tráfego de veículos na BR-230 (Transamazônica) que levam alimentos
e cargas até o município. Caminhões que saíram de Rondônia estão retornando e
estacionando no Distrito de Santo Antônio do Matupi, no KM-180 da rodovia.
Motoristas que foram pegos de surpresa tiveram seus veículos cobertos pela água
que invadiu a rodovia.
A suspensão das aulas ocorre porque as escolas
estão sem merenda escolar. Também não há combustível para fazer o transporte
dos alunos da zona rural. Na semana passada, a prefeitura decretou situação de emergência.
Abastecimento
O abastecimento local começa a ficar prejudicado.
Nos mercadinhos está faltando mantimentos. Outra preocupação é a iminência do
município ficar sem energia elétrica, pois os caminhões com óleo diesel estão
interditados no meio da estrada no sentido Apuí-Humaitá. O município tem
estoque apenas para mais 15 dias.
“Estive na Amazonas Energia aqui em Apuí e
comuniquei a situação. A moça que me atendeu disse que já havia solicitado
combustível, mas a Amazonas Energia ainda não tinha dado resposta. Se não
chegar em 15 dias, vai faltar energia na cidade”, afirmou Silva. Devido à
interdição da estrada, a alternativa é que o combustível saia de Manaus, por
meio de balsa, e não de Porto Velho (RO), pela estrada.
“A situação se agravou nesta semana. E como não
existe uma previsão de que as chuvas não vão parar tão cedo também não sabemos
quanto as aulas vão recomeçar”, disse o vereador.
Os moradores de Apuí só não estão totalmente
isolados porque alguns optam por se deslocar fazendo uma baldeação em um
igarapé próximo à de uma localidade chamada Matamatá por meio de pequenas
lanchas ou “motor rabeta”.
Itaramati
Outro município impactado pela cheia é Itamarati (a
985 quiilômetros de Manaus), onde o início das aulas foi adiado. O prefeito
João Campelo disse ao A CRÍTICA que o nível do rio Juruá afetou até o momento
757 famílias da zona urbana e rural. Na zona rural, muitas das plantações e
criações de pequenos rebanhos foram perdidas. Há também famílias desabrigadas e
desalojadas.
“A maior parte dos impactos acontece nas famílias
ribeirinhas que perdem suas plantações. Essa cheia começou cedo. Era para ter
iniciado só em março, mas o rio Juruá está subindo desde janeiro”, disse Campelo.
Segundo informações divulgadas pela Associação
Amazonense dos Municípios, outros dois municípios do Amazonas estão em estado
de alerta devido à cheia: Ipixuna e Eirunepé.
Fora do normal
O coordenador do Mosaico do Apuí (unidade de
conservação estadual) Izac Theobald esteve no último sábado em uma das áreas
mais afetadas pelo transbordando do rio Roosevelt. Ele enviou algumas fotos ao
A CRÍTICA. Morador há 31 de Apuí, Izac Theobald, de 34 anos, disse que nunca
visto uma cheia tão grande como a deste ano na região.
Theobald destacou a preocupação com a
possibilildade do rio continuar subindo pois o período chuvoso em Apuí e demais
municípios vizinhos vai até abril.
“A travessia do rio Aripuanã também está
comprometida porque a balsa não consegue encostar no porto para embarcar os
carros. E a travessia de carros pequenos está sendo feita de barco,
precariamente, ou em balsinhas improvisadas”, contou.
Conforme Theolbad, o rio Roosevelt está subindo
acima do normal. Ele estimou em torno de 50 centímetros por dia. Já os rios
Aripuanã e Guariba, o nível vem subindo entre 5 a 10 centímetros. “Acima do rio
Roosevelt com Aripuanã as casas não estão alagadas, mas as que estão abaixo
dele estão todas no fundo”, disse ele.
Corredeiras
A região onde está localizado o município de Apuí
reúne três rios: Aripuanã, Guariba e Roosevelt. Este último é afluente do
Aripuanã. A bacia tem como uma de suas principais características suas grandes
e bonitas cachoeiras e corredeiras. Aquela região também possui um dos mais
importantes ecossistemas de fauna e flora da região amazônica. Ano passado, a
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) confirmou que estuda a construção
de sete hidrelétricas na bacia do rio Aripuanã.
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