Kátia Brasil
A Polícia
Federal não pediu prorrogação das investigações à Justiça Federal, portanto,
deve anunciar esta semana o fim das buscas aos três homens desaparecidos no
interior da Terra Indígena Tenharim-Marmelos, no sul do Amazonas.
As
famílias dos desaparecidos dizem que estão convencidas de que houve supostos
crimes de sequestro e homicídio no caso e esperam que o delegado Alexandre
Alves, responsável pelo inquérito, responsabilize os culpados. Os índios
tenharim negam.
“Não foi
toda a comunidade indígena que fez isso, mas sabemos que eles foram mortos por
um grupo. Temos o direito de saber a verdade. São pessoas que morreram sem
saber o por que? Ao menos o enterro simbólico nós queremos fazer”, afirmou a
professora Irisneia Santos Azevedo de Souza, 36, esposa de Stef Pinheiro de
Souza, que está desaparecido há 34 dias.
Stef de
Souza, 43, o comerciante Luciano da Conceição Ferreira Freire, 30, e o agente
da Eletrobrás Amazonas Energia, Aldeney Ribeiro Salvador, 40, desapareceram no
dia 16 de dezembro próximo ao quilômetro 137 da BR 230, na Transamazônica,
trecho que fica dentro da reserva.
Amigos,
Stef e Luciano faziam a viagem de Humaitá para Apuí, semanalmente, a trabalho.
O percurso começou com a travessia na balsa no rio Madeira. Neste dia, segundo
Irisneia Souza, os amigos deram carona para Aldeney Salvador. “Eles não
conheciam o Aldeney. Foram uns policiais que pediram a carona na balsa para o
Aldeney”, disse.
Conforme
apurou o portal Amazônia
Real, a Polícia Federal ouviu 26 pessoas entre índios e não
índios como defesa dos tenharim. Nas diligências realizadas dentro das aldeias,
o delegado Alexandre Alves ouviu depoimentos de 15 índios tenharim, um jiahui,
um munduruku e três pessoas não índias, sendo duas mulheres casadas com
caciques. Mais cinco caciques tenharim foram ouvidos no quartel do Exército.
Não houve indiciamentos. Na reserva, as buscas foram acompanhadas por militares
da Força Nacional de Segurança e do Exército.
O centro
da investigação foi na aldeia Taboca, que fica no quilômetro 137 da rodovia BR
230. Foi neste local que os agentes federais encontraram peças queimadas do
veículo Gol e medicamentos, objetivos já reconhecidos pelas famílias.
Foi também
num trecho da rodovia próxima a aldeia Taboca, em Manicoré (a 322 quilômetros
de Manaus), que uma equipe de quatro policiais militares viu o carro Gol preto,
em que os três homens viajavam, sendo empurrados por índios tenharim. Os
policiais afirmaram, segundo a Polícia Militar, que não estranharam a manobra
dos índios com o veículo porque os tenharim são proprietários de carro.
Outra
informação divulgada, mas não confirmada pela Polícia Militar, é a de que os
quatro policiais não pararam para averiguar a manobra dos índios com o carro
Gol porque ficaram com medo, já que empurravam o veículo cerca de 40 tenharim
e, alguns estavam armados com espingardas. “Os policiais não imaginavam que o
carro era dos meninos. Também disseram que eram uns 30 e 40 índios, não dava
para enfrentar. Os índios estavam de espingarda”, disse Irisneia de Souza
As
famílias também acreditam que o motivo para o suposto sequestro e homicídios
seja uma vingança pela morte do cacique Ivan Tenharim, no dia 03 de dezembro. O
cacique foi encontrado desacordado na Transamazônica. A Polícia Federal também
investiga se foi um acidente de trânsito ou um homicídio. “Os índios alegam que
alguém matou o cacique”, disse a professora.
Suposta
vingança
A tese de vingança foi levantada pelas famílias e pela Polícia Federal depois que o coordenador regional da Funai (Fundação Nacional do Índio), Ivã Bocchini escreveu no dia 19 de dezembro no blog da coordenação na internet:
“O cacique estava desacordado com inúmeros hematomas e ferimentos na cabeça, no entanto a moto, o capacete e a bagagem estavam quase intactos, levantando suspeitas sobre a verdadeira causa da morte, inicialmente apontada como um acidente de trânsito (…). Ivan era como um chefe de Estado. As autoridades competentes devem ser capazes, agora, de dar uma resposta a altura da importância que o cacique tinha para os Tenharim. A FUNAI irá cobrar a polícia para que haja investigação e seja apontada a verdadeira causa da morte”, disse Bocchini no texto. O coordenador foi exonerado do cargo de coordenador no dia 10 de janeiro.
Para
completar a tese de vingança das famílias, o site de notícias acriticadehumaitá.com.br
noticiou que um pajé tenharim sonhou que o responsável pelo atropelamento do
cacique Ivan Tenharim estava num carro preto.
Em nota
enviada ao portal Amazônia
Real, o Departamento da Polícia Federal, em Brasília, diz que
as investigações continuam sob segredo de justiça. “Não são passadas
informações sob investigações em andamento, principalmente àqueles sob segredo
determinado pela Justiça. Os trabalhos continuam até que se traduzam por um
resultado definitivo para se divulgado à imprensa”, diz a nota enviada na
sexta-feira (17).
Segundo a
Polícia Federal de Rondônia, nesta segunda-feira (20) segue para a cidade de
Humaitá (a 591 quilômetros de Manaus), o superintendente substituto da PF em
Porto Velho, delegado Arcelino Damasceno. Ele se encontrará com as famílias e
deve se pronunciar até quarta-feira sobre as investigações.
O advogado
dos índios tenharim, Ricardo Tavares Albuquerque, disse que na etnia não existe
mais pajé. “Há uma ignorância muito grande sobre a cultura tenharim. Ao longo
dos anos os tenharim perderam os pajés pela doutrina das religiões católica e
evangélica. Não temos o que falar sobre isso”, disse.
Sobre os
desaparecimentos dos três rapazes na terra indígena, o advogado Ricardo
Albuquerque disse que os índios tenharim continuam negando o suposto crime.
“Esta linha de inocência dos tenharim será mantida sempre. É preciso muito
cuidado para não difamar e criminalizar a etnia tenharim”, afirmou.
Fonte: amazoniareal.com.br
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