Kátia Brasil
Os índios tenharim
e jiahui voltaram a reafirmar neste domingo (12) que farão a cobrança de
pedágio ilegal na BR 230, na Transamazônia, no início de fevereiro mesmo sob os
apelos da comissão de paz enviada pela Presidente Dilma Rousseff à aldeia
Marmelos, na reserva indígena, a 130 quilômetros de Humaitá, foco do conflito
no sul do Amazonas.
A região está sob
proteção de mais de 700 homens integrantes da força-tarefa federal e estadual.
A comissão
presidida pelo general Eduardo Villas Bôas, comandante militar da Amazônia do
Exército, propôs as lideranças indígenas o fim da cobrança do pedágio ilegal a
pedido da presidente Dilma Rousseff. Em contrapartida, o governo federal irá
desenvolver ações de compensação financeira pelos danos causados aos índios
pela construção da rodovia e implementará políticas públicas sociais e de
sustentabilidade econômica na região envolvendo os ministérios da Justiça, do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome e do Meio Ambiente.
Ivanildo Tenharim,
34, disse em entrevista ao portal Amazônia Real que os índios tenharim e
jiahui não aceitaram a contrapartida da presidente Dilma Rousseff. Eles pediram
pela segunda vez a presença do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para
negociar um acordo. “Não vamos revogar a cobrança de pedágio, que está mantida
para o dia 1º. de fevereiro. O delegado da Polícia Federal já deixou um recado
dizendo que vai prender o índio que fizer a cobrança. Nós vamos cobrar. A gente
vai enfrentar e encarar esse problema de frente”, afirmou.
Em entrevista ao
portal Amazônia Real, o general Eduardo Villas Bôas disse que a mensagem
enviada pela presidente Dilma Rousseff aos índios foi no sentido de determinar
providências para o fim do pedágio. A reunião, que durou cerca de duas horas,
começou às 15h30 (17h30 em Brasília), na aldeia Marmelos, e contou com a presença
de representantes da Secretaria-Geral da Presidência da República.
“Para a presidente
Dilma a cobrança do pedágio não pode voltar a acontecer. A presidente
manifestou muita preocupação sobre o que está acontecendo e determinou que
fosse adotadas providências no sentido de que a Lei seja cumprida”, afirmou o
comandante do CMA.
Segundo o general
Villas Bôas, a presidente Dilma Rousseff manifestou preocupação com a segurança
da população do sul do Amazonas. A região vive um clima de conflito entre
índios e a população não indígena das cidades de Apuí, Manicoré e Humaitá,
desde o desaparecimento de três homens na reserva e a morte do cacique Ivan
Tenharim no mês de dezembro de 2013.
“A presidente
Dilma determinou que se faça as apurações corretamente para definir os
responsáveis nas três questões: a morte do índio, o desaparecimento do três
rapazes e repercussão (a revolta dos moradores). A presidente Dilma tomou
providências para promover a normalização da vida nesta região, garantindo a
segurança de todos, além do atendimento dos índios, que têm dificuldade de
alimentação, medicamentos e tratamento contínuo”, disse o general Villas Bôas.
Solução imediata
Ivanildo Tenharim
disse que as lideranças não aceitaram a proposta da comissão. Segundo ele, a
contrapartida apresentada pela comissão é de longo prazo. Os índios querem uma
decisão de curto prazo já que arrecadavam cerca de R$ 35 mil mensais com a
cobrança do pedágio ilegal.
O dinheiro,
segundo ele, era dividido entre 13 aldeias, onde vivem cerca de 940 índios.
“Nós precisamos de uma solução imediata. Pedimos uma compensação ao governo em
2007. E a agora o governo, que nunca fez nada, vem apresentar uma solução a
longo prazo. Nossa proposta é conversar com o ministro da Justiça (José
Eduardo Cardozo)”, afirmou.
Benefícios do
programa Bolsa Família podem ser uma contraposta que será apresentada nesta
segunda-feira (13) aos índios tenharim por representantes dos ministérios do
Desenvolvimento Agrário (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária –
Incra), Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Saúde; Defesa, Meio Ambiente
(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –
Ibama) em nova reunião na aldeia Marmelos.
Na cidade Humaitá
aconteceu uma outra reunião neste domingo, na parte da manhã, entre autoridades
estaduais, municipais e membros da comissão de paz, da qual foi integrante
também o vice-governador do Amazonas, José Melo (Pros), pré-candidato ao
governo estadual. Ele afirmou que o fim do pedágio ilegal é uma orientação
direta da presidente Dilma Rousseff. O encontro foi na sede do 54ª. Batalhão de
Infantaria de Selva do Exército.
“A nossa comissão
é de paz. Nossa finalidade é encontrar caminhos para que a população indígena
tenha recursos necessários para sua manutenção sem a necessidade de fazer a
cobrança do pedágio. Agora, o governo federal vai encontrar uma forma de ajudar
os índios a terem uma renda”, afirmou José Melo, em nota enviada pela
assessoria de imprensa.
Neste domingo, a
Funai começou a enviar mais de 300 cestas básicas as aldeias dos índios que
vivem no entorno da BR 230, na Transamazônica. O governo do Amazonas anunciou
que enviará 860 cestas básicas e 360 quilos de medicamentos para as aldeias. As
famílias dos desaparecidos no dia 16 de dezembro: Aldeney Salvador, Luciano
Ferreira Freire e Stef de Souza receberão amparo social e financeiro do governo
do Amazonas.
O pedágio ilegal
dos índios tenharim e jiahui foi suspenso no dia 30 de dezembro depois de um
acordo entre caciques com o delegado Alexandre Alves, da Polícia Federal. A
cobrança aos motoristas particulares permaneceria suspensa até o fim das buscas
na reserva aos três desaparecidos.
Em reunião na
aldeia Marmelos no dia 6 de janeiro com o general Eduardo Villas Bôas, os
índios tenharim avisaram que iriam retornar com o pedágio em fevereiro porque
foram ameaçados por fazendeiros novamente. Casas de uma aldeia e os postos de
pedágio foram queimados por fazendeiros e madeireiros no dia 26 de dezembro,
aumentando o clima de tensão na região.
Enquanto não são
concluídas as buscas e as negociações sobre o pedágio, o governo federal
decidiu manter a força-tarefa composta por cerca 700 homens no sul do Amazonas.
Ao longo da
reserva indígena Tenharim fazem a segurança em pontos estratégicos 300
profissionais da Polícia Federal, Força Nacional de Segurança e Polícia
Rodoviária Federal. O Exército apoia as ações com 170 militares. A Polícia
Militar do Amazonas mantém 227 policiais nas cidades de Apuí, Manicoré e
Humaitá.
Fonte: amazoniareal.com.br
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